quarta-feira, 19 de dezembro de 2012
MÁRMORE
MÁRMORE
Vem! Rasga os meus nervos.
Destrói de vez tua sede insana no lamento seco dos vermes que escapam ilesos de minha boca.
Regurgita em meu estômago a febre que sacode minhas vísceras, e fermenta a bílis segregada dos anéis de fogo.
Explodindo as pedras marmoreadas pelo tempo, fragmentadas, coroadas.
Um conta-gotas!
A despejar em pautas o arroto mórbido que sacode a cama dos amantes.
Decepa a alegria contagiante dos meus dedos e extirpa a língua que te fere enquanto beija a carne exposta, retalhada..., e quase exangue.
Ah, delírios que invadem minhas noites e refugiam-se temerosos, atrás de potes porcelanas os quais dormitam em êxtase, recheados de saudade, em flocos brancos, acobertados pelo véu do esquecimento.
Pedra fria, mármore.
Morada inquestionável,
Grande deusa,
Poupe-me do teu escárnio.
Deixa que eu repouse em meu catre o qual exala o odor adocicado do olíbano e escancara de volúpia minhas narinas ao relembrar momentos sepultados, distantes e ultrajados.
Não a temo, aqui estou.
Esmagando o próprio corpo com o peso dos meus olhos.
E te vejo adentrar pela janela, obstruindo a luz, rasgando o silêncio e esfiapando a escuridão pulsante.
E das ameias que circundam meu castelo, eis que surge um cavaleiro negro. Eis que surge.
Montado em seu corcel que cabriola feito pássaro lá vem ele esquivando-se das rodas do passado e transpondo o círculo fétido dos meus sonhos.
Aproveitando-se da carência aglutinada de desejos que salpicam os lençóis brancos penetra em minhas carnes sua lança.
Violentada, sinto o sangue escorrer e desfazer-se em água.
Como um herói, depõe sobre a mesa,
à minha frente, seus troféus.
São corpos nus, sem alma, sem sentido
à espera de tão somente um beijo.
É chegada a hora.
Vem! Hedionda veia assassina mostra tua cara.
Revolve a terra dos meus ossos que ao descolar de ti, me fará pó.
Esquarteja de vez o flácido braço que pende dos meus ombros
Arranca meu quadril, já que ele apenas se prestou pra montaria
Sacode meu corpo até eu cuspir o esperma falho que ainda escapa dos meus dentes
Depois, ergue tua face altiva, alva, para a longa despedida.
Pois amputado já está, o filho que não veio.
Arremetido de ti, embalsamado ficará até o último
Suspiro dos meus seios.
Mas, cuide de guardar a goma que foi usada em seu emplastro, para um dia me servir como frio curativo.
Abafando as feridas necrosadas, e gerando em meu ventre, em dores, outro filho.
Di/////14/02/2004
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