quarta-feira, 19 de dezembro de 2012
“CAUSA MORTIS”
“CAUSA MORTIS”
Puta desgraçada,
A despeito de ti, me corrói a fome
De vomitar o excremento biliar de minhas dores
Escarrando em gotas a adornar o prato fálico
Das lembranças que assomam os minutos do meu tempo
Tempo gasto em prantos sacros
Tempo lento, tempo quente,
Tempo gente...
Se em teu inferno,
Vivo e adormeço, envolta em sonhos.
Mais e mais meu corpo apodrece em tuas chamas,
e clama
teu nome sórdido,
pustulento,
malcheiroso,
epistolado,
E ao ouvi-lo, me faz gelar o peito.
Sinto explodir em gazes.
Ouço teus passos que chegam,
sorrateiros,
pesados,
ligeiros,
Alcançando o corredor do meu quarto,
o meu silêncio
Me entrincheiro nas dobras dos lençóis ainda virgens,
que esperam ansiosos, trêmulos, embriagados,
E chegas sem pedir licença,
sem convite,
sem número,
sem senha,
vais tomando o que te cabe por herança
Vida e alma, corpos Limpos, cínica!
Arroto meu cheiro acre de mau hálito mal dormido,
Expulso teu féretro carniceiro, nojento e nauseabundo
Enquanto sorris de mim e do asco que exsuda de minha pele
E, sem ligar a mínima para as lágrimas que deitam sangue em minha face
Defecas a impotência perplexa do teu ânus,
Que já não vibra mais com a tua excrescência,
Nem sequer se aperta ao te ver negra e cálida ao meu lado
E tu chegas.
Deitas,
E me beijas.
Sinto o frio dos teus lábios e recolho minhas pálpebras
que se entreabrem,
atônitas,
eriça-me os poucos pelos
corre rápido o frio em minhas costas,
que se faz verme,
e estirando-se como réptil
sobe até a pele fina do pescoço
E me tomas como se fosse eu,
Parte de suas brincadeiras de alcova,
Seus dedos magros, esqueléticos,
Sensualmente ossudos
Penetram meus segredos e defloram minhas partes íntimas
Como um cego
Como um morcego
Que tateia a escuridão pulsante,
E sinto, num cadenciado rítmico;
Teu punhal que esburga minha carne dos meus ossos,
Como se eu fosse um boi pendurado num açougue,
E é com surpresa que percebo gozar de tua presença
E meu orgasmo escorre em minha vagina que se abre cálida
A espera
Quieta,
Séria.
Um leve fremir, faz-me sentir a vida.
Ao meu lado teu espólio, que deixa certo e confirmado tua visita
Vêm-me à boca, ânsias de vômito
que de novo engulo como seiva
a alimentar o corpo quase exânime,
tento, erguer da cama meus pés que agora vejo,
aberto em chagas,
apoiando as mãos que clamam por ajuda nos lençóis desvirginados,
E de meus olhos escorre o pranto impotente de um passado,
que se vinga à cada dia, à cada noite,
como um carrasco a me levar ao cadafalso,
Acordo em convulsões
solto o grito encarcerado, que vai correr o tempo,
se firmar no espaço,
em ondas magnéticas, frenéticas,
Elétricas, métricas.
E vem o sol, e rasga veios nas cortinas que observavam, caladas.
Beijando as paredes cúmplices que a tudo assistiram sem dizer nada,
Banhando meus pés que apontam para o teto, frios, afora do imenso cobertor,
Desperto em sorrisos para mais um dia.
Deixando esquecido no lado esquerdo da memória,
A estranha e perversa experiência,
E, como simples anotação, escrevo numa folha pálida
Um novo livro,... Quem sabe, um novo, um novo texto,
- “A visita da velha e macabra senhora.”
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